Uma vida de abandono e revolta que mudou quando ela conheceu o Deus do impossível
"Pai e mãe são a proteção do filho e eu não tinha ninguém a não ser quem me humilhasse e me desprezasse", contou a técnica de enfermagem Luciane Martins
A carioca Luciane Silva Martins, de 50 anos, técnica em enfermagem, teve uma infância difícil. “Não cheguei a conhecer meu pai. Minha mãe foi mãe solteira e faleceu quando eu tinha um ano”, relata. Luciane foi morar com a avó. “Fui morando com um e com outro. Fui levada para a casa de um parente que tinha uma condição financeira boa, mas sofri abuso sexual quando estava com 10, 11 anos. Cheguei a morar em 16 lugares e ninguém queria ficar comigo. Essa rejeição e o abuso me trouxeram muitas consequências. Pai e mãe são a proteção do filho e eu não tinha ninguém. Só tinha quem me humilhasse e me desprezasse. Minha infância foi triste e solitária.”
Sua adolescência também foi complicada. “Cheguei a morar em um barraco e não tinha o que comer nem o que vestir. Teve uma época que não tinha ninguém com quem contar e, para me matricular no colégio, a diretora teve que assinar. Eu apagava o mesmo caderno para usar no ano seguinte. Aquela vida me trazia revolta e uma angústia. Havia um buraco dentro do meu peito. A depressão surgiu.”
DOR DA ALMA
“Era uma solidão muito grande. Eu achava que não tinha ninguém e sentia uma dor na alma. Aquilo não podia ser normal, mas, com o passar do tempo, fui aprendendo a conviver com ela. Eu achava que não tinha o que fazer, então, a forma como lidava com aquilo era deixando o tempo correr. O tempo foi passando e eu fui me tornando uma jovem rebelde, malcriada e, já que não tinha ninguém, não aceitava a opinião das pessoas. Aprendi a viver a minha vida sozinha.”
AFASTAMENTO
Aos 15 anos, a ausência de familiares com os quais pudesse contar se tornou insuportável. “Eu achava que, para mim, não tinha jeito e que a minha vida tinha que acabar logo. Dizia a mim mesma que tinha que existir um Deus. Fui uma pessoa muito atormentada. Naquela época não se falava muito de depressão e fui entender quando me profissionalizei. Daí soube o que estava acontecendo, mas, até então, eu só sabia chorar. Chorar era a forma de eu desabafar, então, chorava todos os dias. Tentei resolver a depressão, aquele vazio, aquela angústia, no choro. Eu, que gostava de conversar, de estar com as pessoas, passei a não querer falar com mais ninguém.”
DO ISOLAMENTO À TRANSFORMAÇÃO
Luciane chegou à Universal há 24 anos. Antes disso, convivia com o problema e tentava administrá-lo. “Um dia, andando, entrei em uma Igreja Universal sem saber que era a Universal. Eu era de uma igreja tradicional e escutei as pessoas batendo palmas. Entrei por curiosidade. Cheguei me sentindo um nada, um lixo. Não tinha perspectiva de vida, mas ouvi falar de um Deus que poderia transformá-la. Chorei a reunião toda. Eu só queria ser uma pessoa digna. Ali encontrei paz e a libertação daquele buraco que existia dentro de mim.”
Ela participou das reuniões às sextas-feiras, voltadas à libertação, e também aos domingos. “Mesmo estudando, fazendo cursos, aprendendo com médicos e enfermeiros, mesmo tendo esclarecimento do que é uma doença, uma patologia, eu tinha um vazio interior que era enorme. Sabia que uma consulta médica, um remédio e um tratamento ou um psicólogo não resolveriam o meu problema. A tristeza era interior, era na alma. Sou uma pessoa equilibrada e, hoje, posso dizer que a maioria dos problemas que enfrento está do lado de fora e não dentro de mim.”