Há cerca de 3 meses, o Peru, país sul-americano que faz fronteira a leste com o Brasil, vem sofrendo com as fortes chuvas. Contudo, no mês de março a situação se agravou, com a ocorrência de uma série de “huaycos”, como são chamadas as avalanches, depois do transbordamento dos rios, causando enchentes e deslizamentos de terra.

De acordo com as autoridades locais, esses são os piores eventos naturais dos últimos 20 anos.

Centenas de casas foram destruídas e também hospitais, escolas, comércios e outras instituições. Muitos povoados ainda se encontram isolados, sem energia elétrica, e há um colapso na distribuição de água potável.

Segundo o Centro de Operações de Emergência Nacional (Coen), pelo menos 90 pessoas morreram, 120 mil perderam tudo e 740 mil sofreram danos menores. Cerca de 350 pessoas encontram-se feridas e 20 estão desaparecidas nas regiões mais afetadas, como Piura, Tumbes, Lambayeque, La Libertad, Lima, Cajamarca e Ica.

Um milagre em meio à tragédia

Evangelina Chamorro Díaz, de 32 anos, é a prova viva de um milagre em meio a toda essa tragédia.

A mulher que, na tarde de 15 de março, emergiu das águas lamacentas e repletas de pedaços de madeira (imagem ao lado) que cobriam as ruas de Punta Hermosa (município ao sul da capital e maior cidade do país, Lima), foi arrastada por mais de 600 metros e sobreviveu.

Ela e o esposo, Armando Rivera (o dois na foto abaixo), de 48 anos, estavam em casa (em um lote de terras onde criavam porcos) quando ouviram um estrondo muito forte.

Quando saíram para ver o que era, a avalanche de água já os estava alcançando. Não havia para onde correr. Foram arrastados em meio a água lamacenta e destroços. Armando foi socorrido antes de Evangelina, quando já a havia perdido de vista.

“Durante os 30 minutos em que fui arrastada, por quatro vezes a lama me cobriu por inteira. Engoli muito barro enquanto tentava pedir ajuda, mas ninguém escutava. Já estava sem forças até mesmo para respirar. Foi nesse momento que pedi a Deus para me dar forças para sair dali e Ele me ouviu. Não podia deixar as minhas filhas sem pai e mãe (as filhas de 5 e 10 anos estavam na escola)”, contou Evangelina durante entrevista após receber alta do hospital.

Ela ficou uma semana internada para se recuperar de cortes no rosto, braços e pernas. Quando deu entrada no hospital, Evangelina tinha lama por todo o corpo, nariz e orelhas, além de terra em sua garganta e olhos. Sentia muitas dores, mas os exames descartaram danos cerebrais ou hemorragias internas. Horas depois, quando seu marido também foi procurar atendimento médico no mesmo hospital em que ela estava, eles se reencontraram.

O auxílio da Universal

A Universal, que realiza trabalho social e de evangelização no Peru há mais de 21 anos, está mobilizando voluntários e doações para atender às necessidades dos desabrigados e mais afetados por essa tragédia.

“Estamos passando por momentos muito difíceis. É neste momento de tanta necessidade que quem está realmente disposto e determinado presta ajuda à população, realizando além da ação social, o trabalho de evangelização”, afirmou o bispo Gilberto Santana, responsável pelo trabalho da Igreja no país.

A maior necessidade física dos afetados é o acesso a água potável e o preparo de alimentos, já que não podem cozinhar por causa da contaminação da água que abastece a região.

Grupos de voluntários estão se reunindo para alcançar essas áreas mais atingidas, entregando refeições prontas, água potável, alimentos, roupas, calçados e, principalmente, o apoio espiritual. Para o pastor Joel Santos, responsável pela região de Trujillo, esse trabalho é essencial, pois leva fé e esperança à população em um momento tão complicado.

“Neste momento, estamos vivendo uma situação muito difícil. Há 18 anos não acontecia algo parecido em Trujillo. E é por isso que o nosso trabalho tem sido de suma importância, porque não levamos somente o alimento físico, mas levamos o principal, o alimento espiritual. Sabemos que somente com a fé essas pessoas vão conseguir vencer essa situação. O nosso trabalho leva esperança aos que estão sofrendo”, comentou o pastor.

Cerca de 800 municípios peruanos declararam estado de emergência desde o início das chuvas. Além disso, há o risco iminente de a população contrair doenças como a leptospirose, dengue, zika e chikungunya. Os voluntários da Universal também estão colaborando com a limpeza pública de ruas, praças e monumentos históricos, para que, de alguma maneira, possam contribuir com a restauração das cidades e com a manutenção da saúde pública.

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(*) Colaborou: Claudia Macedo / Universal Peru