Vai, Brasil!
Em outubro, os brasileiros vão às urnas para eleger novos representantes. Contrariando o descrédito na política, jovens defendem o voto como meio para transformar o País e dizem que informação variada e análise de propostas são fundamentais para fazer boas escolhas
A cada quatro anos, o Brasil fica em festa. As ruas são coloridas de verde e amarelo e a bandeira nacional surge em diversos tamanhos. Deixando de lado as diferenças, pessoas de todas as idades e classes sociais se unem para acompanhar a Copa do Mundo. Cada vitória da seleção brasileira de futebol traz alegria para milhões de pessoas e muitas acompanharão todos os lances do torneio até seu encerramento, em 15 de julho.
Entretanto, o País ainda vai passar por grandes emoções em 2018. Afinal, é depois da Copa que os brasileiros vão encarar o maior evento do ano, este sim capaz de transformar a vida de todos: as eleições. Será que vamos ter a mesma empolgação para discutir propostas e buscar os melhores candidatos para nos representar? A campanha eleitoral ainda não começou, mas alguns brasileiros já estão se preparando para fazer suas escolhas.
O estudante Otavio Alves de Sousa é um deles. O jovem completou 17 anos em janeiro e, apesar de não ser obrigado a votar, fez questão de tirar o título de eleitor. “A situação do País está difícil e muitos não têm disposição para tentar mudar, mas nós precisamos discutir política e buscar projetos para beneficiar toda a sociedade”, opina.
Cuidado com as informações
Otavio diz que acompanha diversas fontes de informação e analisa bem cada uma delas antes de formar a própria opinião. Ele também tenta evitar boatos e notícias falsas. “Devemos checar as notícias mais a fundo, avaliar os projetos de cada candidato e o que eles vão agregar para as cidades, os Estados e o País. Não dá para acreditar em tudo que recebemos pelo WhatsApp e pela internet para não ficarmos no senso comum”, explica.
Estudante do terceiro ano do ensino médio em uma escola pública de São Paulo, ele já sabe o que espera dos candidatos. “A educação precisa melhorar. Também espero compromisso e diálogo com a sociedade. Os políticos eleitos devem dar suporte ao povo, ouvir as pessoas e entender o que falta, só assim o País vai voltar a andar”, completa ele, que gosta de discutir política com uma tia.
Eleições 2018
Neste ano, os brasileiros vão às urnas para eleger deputados estaduais, deputados federais ou distritais, governadores, senadores e presidente da República. O primeiro turno está marcado para 7 de outubro, enquanto a data do segundo turno é 28 de outubro. O voto é um direito garantido pela Constituição de 1988, sendo obrigatório para brasileiros entre 18 e 70 anos, e opcional para jovens de 16 e 17 anos, idosos com mais de 70 e pessoas não alfabetizadas.
Apesar da descrença na política nos últimos anos, a participação nas eleições é fundamental, como explica Bruno Silva, cientista político e diretor do Movimento Voto Consciente. “Nossa democracia tem no voto uma das principais fontes de participação política. O voto parece ter um valor pequeno, mas no agregado ele é muito importante.”
Segundo ele, o desinteresse de alguns jovens pode estar relacionado à falta de capacidade da política em dialogar com os anseios desses brasileiros. “Os jovens têm um olhar mais descrente para a política tradicional e um olhar mais esperançoso para as novas formas de fazer política, como as manifestações e a coletas de assinaturas. Isso é importante, mas também é preciso entender que o tempo da política é diferente, pois envolve acordos e negociações”, esclarece.
Silva acrescenta que o acesso à informação diversificada é o que garante o fortalecimento da democracia e o desenvolvimento do senso crítico. “Ainda existem muitas dúvidas sobre o sistema eleitoral. Por exemplo, o voto para deputado não vai diretamente para o candidato, mas é creditado primeiro no partido. Ao entender esse princípio, o eleitor pode fazer uma escolha mais consciente, pois sabe que precisa analisar também o partido e as propostas que as lideranças partidárias estão discutindo”, detalha ele, afirmando que é importante acompanhar o trabalho do Poder Legislativo e as alianças político-partidárias que são feitas.
Educação e segurança
A estudante do Rio de Janeiro Julia Alencar, de 19 anos (foto a dir.), participará das eleições pela primeira vez, mas já conhece o valor de seu voto. “Não vou votar pela cabeça dos outros. Antes de escolher os candidatos, vou pesquisar as propostas, o partido, o que eles já fizeram antes e as intenções de cada um para o bem comum. É direito de todos os cidadãos ter trabalho, saúde e educação de qualidade”, diz. Ela reclama da falta de transparência dos governantes. “Eles prometem muitas coisas, mas não vemos os processos se realizando. Em uma democracia, os governantes devem trabalhar pelas pessoas e não para si mesmos”, completa.
Julia acredita que a educação é um dos principais desafios para os próximos eleitos. “O investimento em educação evita problemas como a violência e alcança pessoas que não têm condições econômicas. Já estudei em escola particular e quando fui para a pública foi um choque. Os professores e a coordenação estavam muito interessados em fazer algo pelos alunos, mas faltava verba”, conta ela, que faz curso pré-vestibular e quer estudar pedagogia.
Para a jovem, a segurança é outro assunto importante. “Às vezes as pessoas estão tão desesperadas por segurança que acham que qualquer forma de segurança é necessária, mas não é assim. De que adianta ter tanque na rua se não pudermos fazer coisas normais sem sermos reprimidos?”, finaliza ela, que participa da Força Jovem Universal (FJU), grupo da Universal que promove atividades com jovens de todo o País.
Ícaro dos Santos Ambrósio, de 17 anos (foto a esq.), explica que fazer sua parte como cidadão é sua motivação para votar. “O País depende de cada um de nós. Precisamos de investimentos em educação, segurança e infraestrutura”, diz ele, que estuda em escola pública e quer prestar vestibular para biologia ou medicina. Morador de Valparaíso de Goiás, cidade localizada no entorno do Distrito Federal, o jovem destaca os contrastes entre as imagens de Brasília divulgadas na imprensa e a realidade dos municípios que ficam perto da capital do País. “A mídia só mostra Brasília arrumadinha. Pela televisão é uma coisa, mas nós que moramos aqui perto sabemos que é diferente, faltam segurança e saúde”, cita.
Ícaro conta que vem avaliando a atuação de deputados, senadores e presidente, além de buscar fontes de informação variadas para escolher seus candidatos. “Converso com os amigos da escola sobre política, nós falamos sobre as decisões malfeitas e a corrupção”, afirma.
Conscientização
Cícero da Silva Dourado, de 22 anos (foto a dir.), vai participar pela terceira vez das eleições. Entretanto, ele diz que só começou a se interessar por política há pouco mais de dois anos, após entrar na faculdade de administração de empresas. “Descobri que precisava saber mais sobre história, política e as crises para compreender os cenários econômicos”, afirma o paulistano. “A política parece um assunto chato, mas quando você começa a ter mais informações e a entender a história do Brasil, você percebe que é algo muito importante para a nossa vida.”
Cícero diz que já está acompanhando as propostas dos pré-candidatos. Atento à importância das eleições, ele participou como voluntário em uma ação de conscientização sobre o título de eleitor realizada pelo projeto Força Jovem Universitários (FJUni) em São Paulo. “Decidi ajudar porque muitos jovens completam 18 anos sem saber como tirar o título e sem conhecer a importância de buscar informações sobre os candidatos”, finaliza.
O Bispo André Souza, responsável pelo FJUni no Brasil, explica o objetivo das ações de conscientização voltadas para os jovens. “Dentro do projeto, temos um departamento chamado Cidadania, que existe exatamente para resgatar o valor da cidadania em nosso país, que ao longo do tempo tem deixado de lado esse direito”, diz. Ele destaca a responsabilidade do voto: “quando o cidadão entende melhor os seus direitos, passa a compreender que tem também a responsabilidade de cumprir o seu papel para o desenvolvimento do país.”
Conquista
Estudante de gestão de políticas públicas na Universidade de São Paulo, Larissa Alves, de 19 anos (foto a esq.), também foi voluntária nas ações do FJUni. “Durante as orientações, percebi que a desinformação ainda é comum. Muitas pessoas não sabem onde encontrar informações sobre o título, as eleições, os candidatos”, diz ela, acrescentando que o grupo divulgou informações oficiais disponíveis nos sites do Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo e do Tribunal Superior Eleitoral.
Mais do que uma obrigação, Larissa diz que o voto é uma conquista dos brasileiros. “A democracia no Brasil é algo recente e o voto das mulheres, também. Por isso, é importante escolher quem vai nos representar de forma autônoma. Se estamos insatisfeitos com a política, é hora de usar a ferramenta que nós temos para mudar o que nos incomoda.” Além de comparar diferentes veículos de comunicação, Larissa diz que vai observar as atividades dos candidatos e candidatas, assistir entrevistas completas e analisar o passado político de cada um.
Formado em geografia e com MBA em gestão, Weslei Moura Silva, de 31 anos (foto a dir.), faz parte do FJUni e atuou nas ações do grupo para esclarecer dúvidas de eleitores. Na hora de escolher em quem votar, ele diz que prioriza o preparo dos candidatos. “Não basta só boa intenção, é preciso ter capacidade de gestão política e proximidade com o povo. Não podemos generalizar e dizer que todo político é ladrão. Antes, temos que analisar as propostas, o histórico político e acompanhar suas ações depois da votação”, defende.
Weslei lembra que a política faz parte do dia a dia de todo cidadão, até daqueles que não se interessam pelo tema. “É impossível se excluir da sociedade. Em algum momento a pessoa vai precisar de alguma infraestrutura do Estado, ela vai usar aeroporto, precisar de segurança, de saneamento básico ou vai estudar em uma escola ou universidade pública, usar os serviços de saúde, ir a um parque. É falsa a ideia de que não votar ou não discutir política vai eximir alguém do processo político”, conclui.
Mãe e filha
A estudante Déborah Vargas, de 17 anos (foto a dir.), diz que começou a se interessar por política por causa das conversas que tem com os pais. “Muitas pessoas reclamam dos políticos, mas na hora de votar não escolhem direito. Para votar, é importante saber em quem estamos votando, o que a pessoa pode fazer, se ela tem histórico e quais são seus valores”, argumenta. Ela lista suas principais preocupações: “temos escassez nos hospitais, mau ensino, os transportes públicos são muito lotados”, esclarece. A mãe da jovem, Marcela Vargas, de 36 anos, acredita que o voto é uma forma de cumprirmos nosso papel como cidadão. “Cada um deve fazer sua parte e escolher pessoas que tenham compromisso com a sociedade. Depois, é preciso acompanhar o trabalho dos políticos”, afirma.