Vamos falar da restrição aos celulares e às redes sociais?
Nova lei brasileira segue a premissa de outros países que proíbem o uso de aparelhos eletrônicos em salas de aula ou o acesso de crianças e adolescentes às redes sociais
A preocupação dos pais com as crianças antigamente era a possibilidade de que se machucassem, mas hoje é com sua saúde mental. Antes o receio era em relação aos desconhecidos na rua, atualmente são as pessoas que usam perfis falsos. Outro desafio era educá-las com base nos princípios e valores familiares e agora é mostrar que tais princípios e valores são mais fortes do que as sugestões da internet. Com a onipresença das redes sociais, a conexão digital tem sido motivo de dor de cabeça.
A psicopedagoga Erica Silva fala do fator positivo nessa questão: “aparelhos eletrônicos e internet facilitam o acesso a conteúdo educativo e informativo, à comunicação e ao desenvolvimento de habilidades digitais”. No entanto ela lembra que não se pode ignorar seus aspectos negativos: “além do risco de exposição a conteúdo inapropriado e de dependência, pesquisas mostram que o uso excessivo da tecnologia eleva as taxas de ansiedade, depressão, suicídio entre crianças e adolescentes de forma assustadora, além de distúrbios de atenção, atrasos no desenvolvimento cognitivo e da linguagem, miopia, sobrepeso, problemas de sono, isolamento social e diminuição da autoestima. Isso é algo que tem preocupado autoridades, professores e pais”.
Uma tendência global
Segundo a pesquisa TIC Kids Online Brasil 2024, 93% das crianças e adolescentes de 9 a 17 anos acessam a internet, mas não é segredo que nesta fase eles são como uma espoja que absorve tudo do ambiente em que estão – inclusive o digital – e isso afeta sua percepção de mundo, ações e reações. O que eles buscam na internet? A avaliação indica que 10% pesquisam formas de machucar a si mesmo, 6% como cometer suicídio e 20% como ficar muito magro, enquanto 7% querem saber de experiências com o uso de drogas e 14% desejam ver cenas de violência ou com muito sangue, sem mencionar os conteúdos sugeridos.
Viviane Mello, coordenadora da Escola Bíblica Infantil (EBI) da Universal, que cuida de crianças de até dez anos, destaca que o acesso irrestrito a celulares e redes sociais traz diversos prejuízos tanto à saúde física quanto à mental, porque “a mente da criança, ainda em formação, não está preparada para a quantidade de informações que as redes sociais apresentam e que se tornam inadequadas para ela”. Já o pastor Walber Barboza, responsável pela Força Teen Universal (FTU), que atende adolescentes de 11 a 14 anos e tem como lema Mais Realidade e Menos Virtualidade, ressalta que o problema também é a falta de controle: “o adolescente acaba se viciando e passando longas horas diante das telas. Isso promove isolamento, ansiedade e comparação”.
Várias leis estão sendo instituídas para amenizar esses impactos. Em novembro de 2024, a Austrália se tornou o primeiro país a proibir o uso de redes sociais por menores de 16 anos – seguindo o que fizeram a Alemanha, a Bélgica, a França, a Holanda, a Itália, o Reino Unido e a Noruega, que adotaram leis que impõem limites, como o consentimento dos pais para a criação de um perfil nas redes sociais. No Brasil, em 13 de janeiro, foi sancionada a Lei 15.100/2025, que restringe o uso de aparelhos eletrônicos portáteis nas escolas. A lei determina no artigo 2º que o uso por estudantes fica proibido “durante a aula, o recreio ou intervalos entre as aulas, para todas as etapas da educação básica”. A iniciativa está de acordo com o Relatório de Monitoramento Global da Educação 2023 que cita que o uso inadequado ou excessivo da tecnologia afeta negativamente o desempenho acadêmico.
Apesar das polêmicas em torno dessas leis, como o direito da criança e do adolescente a opinar e a se expressar – definido pela Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA/ Lei 8.069/1990) –, as restrições propostas nelas trazem impactos positivos, como o estímulo à interação social, à atividade física ou ao aproveitamento do tempo conectado para fins pedagógicos.
Como é na sua casa?
Vivemos em um mundo conectado onde é essencial ter um celular, seja para manter contato com familiares e amigos distantes, seja para se comunicar em casos de emergência ou aprender algo novo. Mas tanta tecnologia requer equilíbrio – o que é ensinado e praticado, inicialmente, em casa.
Não é uma questão de proibição, mas de orientar os menores sobre as opções saudáveis que existem, como aprender um novo idioma, investir em talentos e habilidades e interagir com a família. “Os pais são os pais. São eles que criam o filho e que devem educar e cuidar do que ele absorve. Então, é papel da mãe e do pai, antes da internet, ensinar os valores, os princípios morais e éticos. Hoje são inúmeros os conteúdos que os pais nem têm controle de que o filho esteja acessando e, por isso, os filhos devem acatar ao que os pais estão orientando à Luz da Palavra de Deus, à luz da ética moral e social”, afirma o pastor Walber, que também alerta para a liberdade de expressão que muitos pensam que existe apenas no mundo digital: “o adolescente tem que aprender a se expressar, primeiro, dentro de casa, sendo transparente com os pais e os consultando nos momentos de dúvida. É claro que os pais também devem dar essa liberdade. Por isso é importante participar da vida cotidiana do filho, acompanhar quem são os amigos dele, identificar quais seus gostos pessoais, valorizar suas qualidades e habilidades e sempre ser uma referência para que ele tenha como aprender de maneira prática”.
Também é responsabilidade dos pais ajudar a criança a desenvolver sua criatividade. “Para isso, o envolvimento e a motivação dos responsáveis são essenciais ao oferecer jogos, livros e atividades que envolvem movimento. Isso não apenas torna a experiência mais divertida e prazerosa para a criança, mas também ajuda a construir memórias afetivas, ensinando valores importantes como ordem, disciplina e a importância de compartilhar”, aponta Viviane.
Ensinar a criança e o adolescente no caminho em que devem andar (Provérbios 22.6) não é uma tarefa fácil, mas ela não pode ser negligenciada nem vista como algo impossível. Mesmo que as autoridades identifiquem os riscos e coloquem restrições ao uso da internet, é em casa, com a família, que a criança deve ser instruída a como se portar e os limites que deve respeitar. E, caso precise de auxílio, tanto
a EBI quanto o FTU contam com voluntários que podem ajudar a ensinar as crianças e os adolescentes e orientar os pais à Luz da Palavra de Deus.
Saiba mais:
Leia as demais matérias dessa e de outras edições da Folha Universal, clicando aqui. Folha Universal, informações para a vida!