Viver é a saída

Se fala muito do número de vítimas de suicídio, mas são mostradas poucas soluções para quem enfrenta esse tipo de pensamento. Caso você esteja convivendo com este problema, esta reportagem traz a ajuda que você precisa

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Infelizmente, o suicídio tem sido a escolha para muitas pessoas que não aguentam mais viver. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 32 brasileiros se suicidam todos os dias. Os dados também revelam que no mundo aproximadamente 1 milhão de pessoas se matam por ano. Isto é, uma morte acontece a cada 40 segundos. No entanto os especialistas estimam que o total de tentativas seja pelo menos dez vezes maior.

Os índices ainda mostram que o número de jovens que tiram a própria vida tem aumentado. Entre 2006 e 2015 houve um crescimento de 24% no número de suicídios cometidos pela população na faixa etária entre 10 e 19 anos. A população idosa também não fica fora das estatísticas. No Brasil, os idosos são o grupo populacional de maior risco para o suicídio, segundo a OMS. Cerca de 1.200 pessoas com 60 anos ou mais tiram a própria vida a cada ano. E, embora a depressão seja apontada como principal causa, há uma série de fatores que também ajudam a estimular essa ideia.

Fatores de risco
Sandra Almeida, psicóloga e especialista em psicologia comportamental, explica que o desejo de morte que um jovem sente pode estar relacionado com o modismo e não conseguir fazer parte dele. “É comum vermos cada vez mais jovens preocupados com a aparência física e também com a ideia de que precisam mostrar uma vida feliz nas redes sociais ou até que desejam ser o que não são simplesmente para se adequarem a um padrão e, uma vez que isso não acontece, gera frustrações.”

Ela também argumenta que vícios em álcool e drogas favorecem esse processo autodestrutivo. Além disso, muitos jovens também acabam querendo morrer depois de uma decepção amorosa, quando enfrentam uma depressão ou até por causa de distúrbios alimentares, como a anorexia.

A especialista ressalta ainda que há casos em que a separação dos pais ou até o descaso por parte deles afeta o jovem e o faz desejar a morte porque se sente rejeitado por todos. “São inúmeros os problemas que uma pessoa pode enfrentar, seja jovem, seja idosa, e que podem desencadear pensamentos suicidas. Para evitar que isso aconteça, é preciso estar atento, dialogar e sempre buscar ajuda”, conclui.

Sabemos que a melhor forma para combater ideias suicidas é trabalhar com a prevenção. É para isso que a campanha Setembro Amarelo existe: para conscientizar a população sobre o suicídio. Ainda de acordo com a OMS, nove em cada dez mortes por suicídio poderiam ser evitadas e a prevenção é fundamental para atingir esse objetivo.

Cartas coloridas
Para ajudar na prevenção, a Universal tem desenvolvido um trabalho destinado às pessoas que enfrentam problemas emocionais e pensamentos de morte. Além das reuniões oferecidas semanalmente na Igreja em todo o mundo, existem projetos como Help (que significa socorro em inglês).

O Projeto Help faz parte da Força Jovem Universal, (FJU) e auxilia jovens que se encontram depressivos e com pensamentos suicidas a buscarem uma saída para os seus problemas e mostra a eles que a morte não é a solução. O Help realiza também ações de conscientização em espaços públicos. Para saber mais, basta procurar a Universal mais próxima de você.

Neste mês o Projeto Help realizou ações em todo o mundo. Cerca de 200 mil voluntários em todo o Brasil escreveram as mensagens de esperança em papéis coloridos. Esses recados foram deixadas em lugares estratégicos, como pontes, viadutos e outros locais procurados por quem deseja tirar a própria vida. Nesse recado é deixado um contato telefônico para que a pessoa que encontrá-lo possa enviar mensagens ou falar com outros jovens que um dia também nutriram o desejo de morrer.

O Bispo Celso Junior, (foto abaixo) responsável pelo trabalho da Força Jovem Universal, explica qual é o objetivo do Projeto Help: “todo mundo quer viver, é da nossa natureza, ninguém quer morrer. O que leva o jovem a tentar cometer o suicídio é achar que não há saída para o problema que ele enfrenta, o que não é verdade. Nossa ideia é mostrar isso a ele.”

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O Bispo ainda enfatiza que em dois anos de existência o Projeto Help já ajudou milhares de jovens por meio dos esforços de seus voluntários espalhados por todo Brasil e pelo mundo. “Oferecemos várias formas de ajuda: atendimentos por meio de redes sociais e presenciais, realização de palestras em escolas, ações e mobilizações de conscientização”, diz o Bispo. As ações acontecem em todo o Brasil e no exterior, como nos Estados Unidos, México e Paraguai, entre outros países.

O Projeto Help teve início em 2017 e surgiu ao se perceber que era necessário fazer algo para combater a depressão, o bullying, a automutilação e o suicídio entre jovens. O Projeto coleciona diversos resultados positivos. Muitas pessoas ajudadas hoje são voluntárias, como é o caso da jovem Tatiane Luiz de Albuquerque, de 29 anos.

Rejeitada antes de nascer
Tatiane (foto abaixo) conta que na adolescência passou por muitos problemas por causa da dependência de álcool do pai. Quando estava bêbado, o pai dela se tornava uma pessoa violenta e agredia verbal e fisicamente a mãe da jovem. Uma vez deixou claro que não queria que Tatiane tivesse nascido. Essas palavras fizeram com que a jovem começasse a questionar sua importância. “Eu pensava: ‘se nem meu pai queria que eu viesse ao mundo, por que estou aqui? A melhor coisa é morrer.”

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A jovem passou a achar que tudo que acontecia de errado ao seu redor era culpa dela e o pensamento de morrer passou a ser seu foco. Ela recorreu à automutilação. “Eu queria alívio para a minha dor e comecei a cortar meus braços, mas a tristeza só aumentava. Percebi que já não tinha mais sonhos nem gosto pela vida. Eu só queria acabar com a minha dor.”

Foi então que aos 18 anos Tatiane tentou o suicídio. “Eu estava me afogando em pensamentos destrutivos e sentimentos que me consumiam por dentro.”

Mas uma ajuda chegou. Tatiane conta como isso aconteceu: “conheci um rapaz e ele me convidou para um encontro que mudaria a minha vida. Isso despertou a minha curiosidade e aceitei o convite”.

Foi dessa forma que a jovem conheceu o Projeto Help. A cada encontro ela foi aprendendo ferramentas para vencer os maus pensamentos e afirma que seu modo de ver a vida foi se transformando. “Eu me libertei da mágoa e do ódio que sentia. Passei a ver as coisas de um modo diferente e entendi que podia vencer os maus pensamentos que eram tão intensos. Com o passar do tempo, nada daquilo me afetava mais.”

Tatiane fala que seu vazio acabou completamente quando ela recebeu o Espírito Santo. “Daquele dia em diante nunca mais fui a mesma nem tive mais vontade de morrer. Tive forças para ir em busca dos meus sonhos, me formei em psicologia e fiz pós-graduação em psicologia do trânsito. Minha vida amorosa também mudou: me casei com aquele rapaz que me evangelizou e já são oito anos de um casamento feliz. Hoje tenho vida e deixei de apenas sobreviver.”

Três tentativas de suicídio
Diferentemente de Tatiane, os problemas de Julie Gabrieli Hilário, (foto abaixo) de 20 anos, não começaram em casa. “Nunca tive nenhum tipo de desavença com os meus pais. Eles sempre foram presentes em tudo”. O que fez a jovem mudar foi o término de um relacionamento na adolescência. “Quando perdi esse namorado, senti que tinha perdido tudo.”

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Julie passou a ser uma jovem triste, já não se alimentava mais e chegou a pesar 47 quilos – bem abaixo do recomendado para ela. Ela passou a fazer uso excessivo de bebida alcoólica e frequentava festas para que pudesse superar sua perda. “Eu só sabia chorar por tudo.

Em uma festa, além de beber muito, tomei êxtase, uma droga em comprimido.”

Depois de usar a droga, Julie passou mal e foi dormir na casa de uma amiga para que os pais não soubessem o que aconteceu. A jovem se recorda que foi abusada sexualmente pelo primo da colega e, quando disse para a amiga o que tinha ocorrido, a amiga falou que a culpa era dela por estar bêbada.

Depois do abuso, Julie passou a ter desejos de suicídio e a se automutilar. “Em 2017, tentei me matar com um golpe de faca na barriga, mas minha pressão caiu e acabei desistindo. Depois tomei vários comprimidos, mas não aconteceu absolutamente nada. Na terceira vez ingeri mais comprimidos, passei muito mal e vomitei tudo que havia tomado no mesmo dia algumas horas depois.”

Se sentindo fracassada por nem ter conseguido tirar a própria vida, Julie, que já conhecia o trabalho da Força Jovem Universal, decidiu pedir ajuda. “Cheguei a uma reunião da FJU e tudo que o pastor falava naquele dia parecia que era para mim. Chorei muito e decidi parar com tudo de errado que fazia. Não foi fácil. Tinha dias em que eu chorava lutando contra as vozes que gritavam dentro da minha cabeça, mas venci.”

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Julie conheceu o Help em março de 2018. A partir daí ela tem ajudado outros jovens que estão na mesma situação que ela esteve um dia. “Hoje é gratificante ver pessoas se voltando para essa mesma porta que se abriu para mim. Eu sei que por pior que tenha sido tudo que eu passei valeu a pena. Hoje posso estender a mão para quem está caído assim como eu estive.”

Superação
No dia 15 de setembro, voluntários do Projeto Help realizaram uma passeata em uma das avenidas mais conhecidas da cidade de São Paulo, a avenida Paulista. A passeata chamada Uma Super Ação para a Superação, reuniu cerca de 5 mil jovens vestidos com camisetas com mensagens motivacionais e palavras como mágoa, dúvida e dor entre outras que faziam referência às dificuldades e conflitos que a juventude enfrenta, e também portavam cartazes de incentivo.

Você que é São Paulo pode encontrar esse apoio no Projeto Help do Templo de Salomão. O Pastor Cadu Souza, (foto abaixo) responsável pelo trabalho do Help no Estado de São Paulo, conta que voluntários realizam milhares de atendimentos. “Muitos dos atuais voluntários do projeto são exatamente aqueles que um dia se beneficiaram desta ajuda. Então, estamos prontos para ajudar”, afirma.

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Colaborador

Maiara Máximo / Fotos: Demetrio Koch e Mídia Fju