Você está atento ao conteúdo que seus filhos consomem?

Séries como Round 6 chamaram a atenção das crianças, mas especialista alerta para os impactos negativos das cenas de violência no desenvolvimento dos pequenos

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No mundo das redes sociais tem sucesso quem viraliza. O termo é usado para classificar aqueles que viraram moda de uma hora para outra e passaram a ser assunto comentado entre todas as faixas etárias na rede. E um dos conteúdos recentes que se enquadra nessa categoria é a série Round 6, original de uma plataforma de streaming. Em cerca de um mês, ela foi assistida em mais de 130 milhões de lares.

A série, criada pelo sulcoreano Hwang Dong-hyuk, conta a história de pessoas endividadas que, para resolverem seus problemas financeiros, aceitam participar de um jogo que oferece um prêmio milionário. As tarefas parecem simples, porque imitam brincadeiras infantis, mas aquele que perde é, literalmente, eliminado, ou seja, morre.

Além da violência, a trama ainda traz cenas de suicídio, tráfico de órgãos, tortura psicológica, relações sexuais – inclusive entre um homem e um rapaz mais jovem – e palavrões. O conteúdo possui classificação etária de 16 anos, mas tem sido assunto entre crianças de apenas oito anos.

Em uma carta aberta aos pais uma escola de Pernambuco fez o seguinte alerta: “a série utiliza-se de brincadeiras simples de criança, como Batatinha frita 1,2,3, cabo de guerra, bolas de gude e outras, para assassinar a sangue-frio as pessoas que não atingem o objetivo final. O que nos causa preocupação é a facilidade com que as crianças acessam esse material”. O comunicado demonstra a preocupação dos educadores com o impacto que o conteúdo inadequado pode causar no desenvolvimento infantil.

A psicóloga Camila Galhego segue na mesma linha: “o que percebemos é que crianças que se alimentam desse tipo de conteúdo são mais ansiosas ou até mesmo agressivas. O conteúdo de violência, por exemplo, pode fazê-las passar a desconfiar das pessoas e a ter medo do mundo. Como a criança generaliza, ela pode ter uma visão distorcida”. Ela ainda fala de problemas no sono delas: “ao consumir esse tipo de conteúdo por muito tempo, a criança fica em estado de alerta e a ansiedade pode gerar insônia ou pesadelos”.

Segundo ela, apesar dessa influência na mente da criança, consumir esse conteúdo não é o único fator que molda sua personalidade: “a casa dela também influencia muito. Se a criança não tem suas necessidades básicas supridas pela família, ela acaba sendo prejudicada. Não é somente o conteúdo, mas a educação também é responsável pela saúde mental de uma criança”.

Papel dos pais
Sabe-se que, atualmente, tanto pais quanto mães se unem para prover o melhor para seus filhos e acabam passando longos períodos fora de casa. Mas, quando estão juntos deles, há tempo de qualidade? Infelizmente, recorrer a estratégias mais “fáceis” para distraí-las nem sempre traz os resultados esperados. É preciso que os pais entendam a importância de sua presença na criação dos filhos e procurem saber mais sobre eles, inclusive o que estão assistindo.

O objetivo não é ser um bisbilhoteiro ou parecer um “chato” e impor regras quanto ao que podem ou não fazer, mas, por meio do diálogo, é possível estabelecer a confiança. “Os pais precisam estimular a inteligência da criança e explicar os prejuízos de certos conteúdos. Ela precisa entender o porquê não pode assisti-los. Quando o pai fala apenas não, ele gera uma revolta na criança e ela começa a mentir e a assistir escondido”, comenta a psicóloga. Ela diz que o diálogo estabelece uma ligação afetiva que cria entre pais e filhos o respeito e, consequentemente, a obediência. “É importante conversar e limitar e não proibir de maneira punitiva.”

Vale ressaltar que os pais são um exemplo para os filhos. Dessa forma, não adianta encher as crianças de regras se eles não as valorizam nem as seguem. “Nós temos casos de crianças de oito anos que assistem pornografia porque o pai vê. Os familiares precisam ser coerentes porque são as principais referências das crianças”, finaliza.

Classificação Indicativa
Poucos levam em consideração o número que está na tela em conteúdos audiovisuais. Trata-se da classificação indicativa (guia ClassInd), determinada pelo Ministério da Justiça. Ela demonstra qual é a idade mínima para poder consumir aquela produção, sempre com base no seu conteúdo. A série Round 6 é direcionada para maiores de 16 anos. Esse é um ponto ao qual os pais precisam ficar atentos no momento de escolher o que assistir com os filhos.

A classificação analisa, especialmente, três aspectos: violência, drogas e sexo. “Como regra geral, à medida que as situações violentas, do universo das drogas e das práticas e discursos sexuais ficam mais complexas, mais recorrentes ou mais intensas e impactantes (impressionantes, chocantes ou que causem grande efeito) agrava-se também a tendência de classificação indicativa e, por conseguinte, eleva-se a gradação atribuída à obra”, consta do guia ClassInd. Assim, é importante respeitar essa classificação e, mais do que isso, verificar se os valores transmitidos por aquela obra condizem com o que os pais querem “plantar” em seus filhos. “A ClassInd não substitui o cuidado dos pais, mas é fundamentalmente uma ferramenta que pode ser usada por eles. Por isso, recomendamos que os pais e responsáveis assistam e conversem com os filhos sobre os conteúdos e temas abordados na mídia”, destaca o Ministério da Justiça.

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Colaborador

Cinthia Cardoso / Foto: getty images