Você tem acordado cansado depois de noites maldormidas? Saiba que o problema não está afetando só você. De acordo com a pesquisa FIA Employee Experience (FEEx), realizada com 150 mil funcionários de mais de 300 empresas em todo o Brasil, 47% dos trabalhadores afirmam que têm dificuldades e 32% dos entrevistados dizem que seu trabalho gera estresse excessivo ou esgotamento mental, que podem causar problemas cardíacos e imunológicos.

Para a médica pneumologista Luciane Mello, especialista em medicina do sono e pesquisadora da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (Afip/SP), a pandemia, o isolamento social, o desemprego e as contas a pagar influenciam na hora de dormir. “Temos atendido pacientes nessa situação de insegurança e angústia, que os leva a ter prejuízos em relação ao sono. A ansiedade excessiva faz com que o indivíduo tenha um perfil de ruminação: ele acorda mais vezes à noite e tem dificuldade de dormir por conta desses pensamentos recorrentes.”

Luciane explica que os indivíduos que não dormem bem à noite têm mais sonolência de dia: “eles apresentam prejuízo em relação à produtividade e à cognição e suas reações são mais lentas. A privação crônica do sono tem consequências importantes em relação a doenças cardiovasculares e a acidentes por conta da sonolência. Eles também podem desenvolver quadros de alteração de humor e depressão.”

De acordo com a médica, vários distúrbios prejudicam o sono. “Os mais comuns são a insônia, que aumentou de forma geométrica nessa fase pandêmica, mas também temos problemas em relação aos tubos respiratórios do sono, que têm aumentado por conta do ganho de peso na população que está mais em casa, com menos atividade física, e tendo mais ronco e apneia”, afirma.

Luciane orienta que se tenha cuidado com a alimentação e faz outras recomendações: “a atividade física, de preferência durante o dia, auxilia o sono. Evite comer alimentos ricos em carboidrato e gordura ao menos três horas antes de dormir. Bebidas que sejam estimulantes, principalmente chá preto, chá-mate, café, chocolate e refrigerante, devem ser evitadas. Se tiver sensibilidade maior à cafeína, deve fazer a ingestão de café depois do almoço, no máximo.”

A luz do sol também é importante para regular o sono. “Nós temos um ciclo de 24 horas e pegar sol de manhã é importante para ajustarmos esse ciclo. Também por isso é indicado evitar o uso de computador e celular perto da hora de dormir. Eles têm luminosidade excessiva. Os jovens usam o aparelho como se fosse uma continuidade do seu corpo. Pare de usá-lo ao menos duas horas antes de dormir para reduzir os estímulos e entrar no processo de início de sono”, orienta.

Por último, ela destaca que diversas funções metabólicas são executadas durante o sono, como liberações hormonais, ajustes de memória e organização de aprendizado. “A pandemia alterou nossa rotina e as famílias estão indo dormir cada vez mais tarde. É importante nos reorganizarmos até para que as crianças tenham um perfil de sono melhor. É preciso manter regulados os horários de atividades e de alimentação e pegar sol pela manhã para que os ciclos sejam mantidos”, conclui.