Você sabe o que é autismo?
Conheça quem está batalhando para vencer esse transtorno e o preconceito em torno dele
O Transtorno do Espectro Autista (TEA), conhecido popularmente como autismo, é uma síndrome complexa e muito mais comum do que se pensa. Ele afeta cerca de 2 milhões de pessoas no Brasil. Tão grande quanto o número de casos é o preconceito em relação a esse problema, que acomete crianças já nos primeiros anos de vida. O professor Celso Goyos,, coordenador do Instituto LAHMIEI, ligado à Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), no interior de São Paulo, explica que o autismo é um atraso no desenvolvimento comportamental com possíveis relações genéticas e neurológicas.
Não é doença
Segundo ele, o transtorno abriga características comportamentais diversas e cada indivíduo no espectro é único, mesmo que apresente alguns ou muitos traços comuns. “Ele não é considerado uma doença, portanto, não se fala em cura. O diagnóstico é dado pelo médico. Em geral, é o pediatra, o neurologista ou o psiquiatra infantil quem o identifica, mas outros profissionais, como psicólogos, fonoterapeutas, terapeutas ocupacionais, psicopedagogos, educadores, e os pais estão atentos aos primeiros sinais e fazem o encaminhamento das crianças aos médicos”, afirma.
Origem
Com doutorado nessa área e com atuação em pesquisas sobre o tema desde 2010, o professor Goyos argumenta que a origem do transtorno ainda é desconhecida, mas ressalta que é importante começar o tratamento o mais cedo possível. “Os indivíduos autistas podem viver funcionalmente bem na vida familiar, escolar, social e até no trabalho, independentes em algum grau e felizes, dependendo dos prejuízos comportamentais que apresentem e se receberem os tratamentos adequados, baseados em análise de comportamento, de forma intensiva, e supervisionados por analistas de comportamento devidamente capacitados para isso”, esclarece.
Sinais
O especialista aponta alguns sinais que podem indicar se uma criança apresenta o problema. “Ausência ou atraso significativo no desenvolvimento da fala, quando não há qualquer prejuízo nos aparelhos auditivos e fonoarticuladores, ou mesmo excesso de linguagem não funcional; ausência ou atraso significativo no desenvolvimento de relações sociais com crianças da mesma idade ou adultos; ausência ou deficiência de contato visual sob controle instrucional; excesso de comportamentos repetitivos ou estereotipados; e grande restrição comportamental. Esses comportamentos se manifestam das mais variadas maneiras em inúmeras combinações e graus e não é somente a presença deles em alguma dessas áreas que caracteriza o autismo”, adverte.
Descoberta
Foi ao perceber alguns desses aspectos que a professora paulista Cinthia de Sousa Gobbato, de 37 anos (foto a dir.), descobriu que o filho era autista. “Notei que o Ivan (foto a dir.) era um pouco diferente das outras crianças, pois tinha dificuldades em realizar algumas atividades que elas faziam. Depois de várias consultas com uma psicóloga, ela disse que não era normal uma criança com três anos de idade ainda não falar. Ficou desconfiada que pudesse ser alguma síndrome neurológica e pediu para marcarmos uma consulta com o neurologista, o psiquiatra, a geneticista e a fonoaudióloga”, conta.
Sem chão
Quando recebeu a confirmação de que o filho era autista, Cinthia lembra que perdeu o chão. “O autismo ainda é muito estigmatizado, então, ao mesmo tempo que procurei me informar sobre o assunto, fiquei bastante preocupada. Fui apresentada a uma senhora, na igreja que eu frequentava, que tinha um filho autista. Ela me falou da Associação Brasileira de Assistência e Desenvolvimento Social (Abads) e de quanto o filho dela tinha progredido depois de conhecer a instituição. Isso abriu as portas para nós”, revela.
Referência
A presidente da Abads, Rose Amorim, de 50 anos (foto a esq.), afirma que a instituição, localizada na cidade de São Paulo, é há mais de seis décadas uma referência no atendimento a pessoas com deficiência intelectual. “A Abads ocupa um espaço físico de mais de 8.500 metros quadrados e tem 108 profissionais divididos em áreas como psicologia, fonoaudiologia, fisioterapia, terapia ocupacional, psicopedagogia, musicoterapia, arte-terapia, enfermagem e neuropediatria. A experiência ao longo desses anos nos mostra que muitas pessoas que recebiam o diagnóstico de deficiência intelectual tinham, na verdade, muitos sintomas e sinais do que atualmente conhecemos como TEA. Auxiliamos essa população há muito
tempo”, salienta.
Atendimento
A Abads também mantém uma escola especializada para alunos com ensino equivalente ao primeiro ciclo do ensino fundamental. “A associação funciona de segunda a sexta-feira e as famílias não pagam nada pelas terapias oferecidas. Para buscar atendimento, há diferentes portas de entrada. Uma delas é o acolhimento. Nessa reunião quinzenal, o serviço social entrevista e apresenta a família à associação e a direciona, de acordo com suas necessidades, para realizar uma avaliação diagnóstica ou prestar orientações de encaminhamento, por exemplo. Também temos convênios com as Secretarias de Saúde municipal e estadual”, esclarece Rose.
Evolução
Cinthia não cansa de elogiar o trabalho da Abads e conta que desde que conheceu a entidade, há quatro anos, seu filho tem evoluído muito. “Ele chegou aqui usando fraldas e não falava nenhuma palavra. Hoje já começou a pegar no lápis, está aprendendo a ler e a escrever, passa com a psicopedagoga, busca fazer amizades e até a coordenação motora e o desenvolvimento cognitivo dele melhoraram. As pessoas têm a visão de que o autista é muito limitado, mas o Ivan teve um tremendo desenvolvimento, mesmo que ele faça as coisas mais simples. Eu sempre agradeço muito a Abads por essas mudanças”, conclui.