Você sofre com ansiedade patológica?

Apesar de ser uma emoção natural ao ser humano, quando exagerada, a ansiedade pode se tornar um grave problema de saúde

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Alegria, medo, empatia, raiva, satisfação e tédio fazem parte da lista de 27 emoções naturais ao ser humano, de acordo com um estudo da Universidade de Berkeley, nos Estados Unidos. Nesse rol também está uma que comumente nos acompanha antes de uma viagem, de uma entrevista, de conhecer alguém ou de viver algo novo: a ansiedade.

A psicóloga cognitivo- comportamental Rejane Sbrissa explica que existe uma ansiedade saudável: “é aquela que nos ajuda a perceber um perigo e nos protegermos. Ela está associada ao medo que, sem exageros, ajuda em nossa autopreservação, a ficarmos vigilantes e a atingirmos metas. Ou seja, ela não é ruim, mas sua intensidade e a resposta emocional e psicológica que damos a essa emoção as tornam patológica”.

O último mapeamento global realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), publicado em 2022, revela que o Brasil tem a maior prevalência de ansiedade patológica do mundo. São 9,3% de brasileiros diagnosticados e a tendência é que esse índice aumente.

Quando ela é patológica?
Entre os gatilhos que contribuem para que a ansiedade se torne um transtorno estão desemprego, falta de segurança, violência, problemas financeiros, sensação de vazio interno, autocobranças exageradas, sentimento de culpa, problemas de autoestima e outras situações que desencadeiam uma reação emocional e física intensa, excessiva e desmedida e que nos atrapalha psíquica e fisicamente a desempenhar as tarefas diárias.

Rejane diz que sentir o coração disparar frente a uma nova situação, a exemplo de uma entrevista de emprego, é normal. “Se o medo exagerado, pensamentos negativos e o coração disparado forem constantes e o impedirem de fazer as tarefas em sua vida, o problema virou uma patologia e necessita de tratamento”, destaca.

A doença não faz acepção de pessoas, mas são as crianças e os adolescentes que respondem pelo maior número de diagnósticos de ansiedade patológica: “nesta fase, o ser humano ainda está em desenvolvimento psíquico-cognitivo e ainda está vulnerável emocionalmente ao que lhe acontece”. Ela ainda cita outros grupos vulneráveis, como pessoas de classes sociais menos favorecidas que têm menos acesso à informação e a tratamentos; quem trabalha muitas horas por dia sob pressão, que se sente inseguro quanto ao futuro e com pouca qualidade de vida; além de quem usa excessivamente as redes sociais, pois o hábito gera uma série de expectativas e cobranças.

Mas, afinal, como saber se a ansiedade se tornou patológica e que é necessário pedir ajuda? Rejane lista que os sintomas são cansaço, tremor, dormência, falta de ar, asfixia, suor excessivo nas mãos, nervos à flor da pele, pensamento negativo obsessivo, irritabilidade, insônia ou hipersonia, náuseas, distúrbios alimentares e tonturas.

Cada ansioso apresenta alguns desses sintomas, que podem ser confundidos com os de outros problemas e, por isso, é necessário ficar atento. “É preciso pedir ajuda quando as crises ou os sintomas forem frequentes e passarem a atrapalhar a vida social, familiar, profissional e os relacionamentos ou quando você se sentir paralisado, sem conseguir prosseguir com sua vida e seus planos”, indica.

Busque ajuda!
O receio de pedir ajuda e o desconhecimento em relação aos transtornos mentais e seus sintomas contribuem para o aumento de casos de ansiedade e dificultam o combate à doença. Cabe ao Estado fazer mais campanhas informativas sobre o tema e oferecer mais médicos e tratamentos para cuidar da saúde mental e para que seja possível frear o crescimento da ansiedade patológica.

Além disso, os sintomas dela se confundem com os de outras doenças e é comum que quem sofre de ansiedade patológica busque um cardiologista, porque um dos sintomas é a taquicardia e, mesmo que você suspeite que tenha ansiedade patológica, cabe a um profissional capacitado diagnosticá-la corretamente.

“Saúde mental é bem-estar. Ela permite aproveitar nosso potencial de ser humano, autoconhecimento, nossa formação de valores, saber lidar com as dificuldades da vida e adversidades, ter autoconfiança, trabalhar produtivamente e contribuir para a sociedade. Não se importe com o que pensam de você. A ansiedade, se não tratada, vira depressão, que é outro problema muito grave de saúde pública hoje em dia”, explica Rejane.

Ela diz que a área mais indicada para ajudar é a psicologia cognitiva e que há hábitos que favorecem o combate à patologia, como praticar atividade física, meditar, ter sono e alimentação de qualidade, não se isolar e limitar o tempo gasto em redes sociais e com notícias negativas.

Sob a Luz do cristianismo
Ansiedade é o excesso de preocupação, dúvida ou insegurança em relação ao futuro, mas a Bíblia orienta: “não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal” (Mateus 6.34).

O Bispo Adilson Silva explica que, sob a luz do cristianismo, a ansiedade revela falta de fé e pode ser considerada desobediência ao que Jesus ensinou. “A pessoa que se deixa levar pela ansiedade, primeiro, está interrompendo um relacionamento com Deus, porque a ansiedade é consequência da dúvida e o relacionamento com Ele depende de fé. Espiritualmente, a ansiedade é como um atestado da dúvida.”

Destacando que a dúvida é a mãe da ansiedade, o Bispo lembra que a fé é justamente o oposto, já que é definida como “a certeza de coisas que se esperam, a convicção de fatos que se não veem” (Hebreus 11.1). E finaliza: “entendo que a fé é a única arma para combater a ansiedade. Quando uma pessoa desenvolve um relacionamento com Deus, o resultado é que a sua fé fica em alta e, por consequência, isso põe fim à ansiedade”.

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Colaborador

Laís Klaiber / Foto: tadamichi/getty images