A ponta do iceberg
Tenho visto muitas pessoas desejando a obra de Deus. Mais que isso. Anseiam desesperadamente por ela.
Eu sei, isso deveria me alegrar, mas a verdade é que isso muito me preocupa.
Preocupa porque não vejo nessas pessoas a mesma ânsia em servir a Deus, em agradá-Lo, em conhecer a Sua vontade para a vida delas. O que querem na verdade é realizar o sonho delas, um capricho pessoal, sem se importarem se esse é o Sonho de Deus para elas.
Temo pela alma delas.
Penso que quem de fato tem dentro de si o desejo sincero de servir a Deus, já O serve. Ela não depende de um uniforme, de um título. Dentro dela existe o espírito de servo e por isso enxerga oportunidade de Servi-Lo onde ninguém mais enxerga.
Ela não se preocupa se está sendo ou não observada pelo pastor. Ela sabe que o Supremo Pastor a tudo vê e é a Ele que ela quer agradar.
Temor, submissão, renúncia, entrega, obediência e humildade são características inerentes a ela, não há esforço para fazê-las transparecer, simplesmente porque fazem parte dela. É a sua essência.
Ela não busca reconhecimento, tapinha nas costas, elogios. Tampouco se importa se não é notada. Ela sabe que Aquele cujos olhos passam por toda a terra, a vê, por isso, tem paz de espírito e confia no seu chamado.
Infelizmente não tenho visto esse espírito de servo em muitos candidatos a obra de Deus. O que vejo são pessoas esperando TER para SER, quando na verdade devemos SER para TER.
Querem ter o título de obreiro, de pastor, para então começarem a ser mais espirituais, mais servos, mais usados por Deus, mais, mais e mais…
Se esquecem de um dos ensinamentos mais básicos de Jesus: Dar para receber.
Doar a si mesmo em favor dos aflitos, dos perdidos. Como Jesus Se doou por nós. E isso envolve dor, renúncia, negar-se a si mesmo, sacrifício, altruísmo, entrega. E são muito poucos que estão dispostos a isso.
Enganam-se dizendo que querem servir a Deus, mas a conduta deles, prova exatamente o contrário: O que querem mesmo é se servir de Deus e da Obra de Deus.
Por essa razão sucumbem no meio do caminho. Exaustos, sem forças e esgotados espiritualmente, porque enxergaram a obra de Deus com olhos carnais. Contemplaram apenas o visível, como a ponta de um iceberg.
É comum as pessoas nutrirem certa admiração pelos obreiros e obreiras, pastores e esposas. Acham lindos quando veem os obreiros e obreiras todos uniformizados no salão, sorridentes e sempre tão prestativos. Ficam encantados quando o pastor os coloca em cima do altar, ora por eles e fala da importância e da santidade da obra de Deus.
Veem as esposas e pastores sempre bem vestidos, felizes, vivendo uma vida totalmente dedicada a Deus e desejam ser como eles. Desejam a vida deles. Desejam o que eles têm. Mas eu me pergunto se estariam dispostos a pagar o preço que eles pagaram para chegarem até ali. Desconhecem os caminhos cheios de espinhos que tiveram que percorrer. As feridas e cicatrizes causadas por esses espinhos. As lágrimas que tiveram que derramar para hoje poderem sorrir. Duvido.
Certa vez, após presenciar uma cena como essa, uma mulher me abraçou e disse: Que lindo! Eu nunca presenciei algo tão maravilhoso! Também quero ser uma obreira.
Ali, ela estava enxergando só a ponta do iceberg. A obra de Deus é muito maior e mais abrangente do que os nossos olhos podem ver. Muitos esquecem de que submerso nas águas, nas profundezas do oceano está a maior parte daquele lindo iceberg, do qual elas só conseguem enxergar a ponta. E é o que está escondido que sustenta o que está aos olhos de todos. Mas é o que está invisível que sustenta o visível. A força do iceberg está na sua estrutura que tem suas raízes nas profundezas das águas e resiste a todas ameaças e perigos que o cercam. Sua força é capaz de fazer afundar o mais imponente dos navios.
Assim é aquele que verdadeiramente é servo do Altíssimo. Sua força não está no que é visível. No título, na posição e muito menos no uniforme. Mas na sua dependência de Deus. Na comunhão que mantém com o seu Senhor. E assim como a de um iceberg sua força é capaz de fazer afundar o inferno inteiro que se levante contra ele, porque sua força não está no que é visível, mas suas raízes estão muito bem fincadas no Deus invisível. E, portanto, não há luta, dificuldade, perseguição ou fome que o faça desistir e olhar para trás, pois, sabe a Quem tem servido.
Jeane Vidal.